Editorial Newsletter Março 2022
A Nova (a)normalidade
Os conteúdos desta Newsletter aparentam um regresso à normalidade depois de vivermos cerca de dois anos sob os ditames, e ao ritmo, da pandemia COVID-19.
Mas a normalidade de hoje não será igual à normalidade que existia antes da chaga que foi o COVID-19, e, sobretudo, depois do horror que representa a invasão e guerra na Ucrânia. Não creio que qualquer um de nós acreditasse, há escassos meses, que fosse possível o que está a acontecer na Ucrânia. Que em pleno século XXI assistíssemos a uma guerra na Europa, brutal e inútil.
O mundo mudou. E mudou mesmo muito. Na nova (a)normalidade, a globalização, em toda a sua extensão, tal como a conhecíamos, está posta em causa. Há muros que se ergueram e que tendem a separar os países bastião da democracia daqueles que são menos transparentes, que são totalitários.
Mas há uma interdependência mundial generalizada à qual não se pode pôr fim por decreto: a dependência energética da Europa face à Rússia; a dependência do mundo Ocidental em relação à China – a fábrica do mundo – posta em evidência pela pandemia; o controlo do sistema financeiro internacional e de tecnologia fundamental pelo Ocidente; etc…
É cedo para saber como vai evoluir, ou como vai ‘terminar’, esta nova realidade geopolítica que a Rússia espoletou com a invasão da Ucrânia. Esta nova (a)normalidade que não creio seja desejada pelos povos do mundo.
Seria bom que da mesma forma ‘inesperada’ como a guerra começou a guerra pudesse acabar e a cooperação internacional e o multilateralismo pudessem voltar. Mas tudo indica que não vai ser assim. Tudo indica que o mundo se vai dividir novamente em blocos, que os muros vão continuar a subir.
Temos a magra consolação de ver renovados os laços transatlânticos, entre a Europa e os Estados Unidos. Empurrados pelos acontecimentos parece ter renascido a vocação de ambos cooperarem para a prosperidade, e, se possível, também para a paz mundial.
As reuniões, as feiras, os almoços, as viagens e os contactos ressurgiram em força e tudo indica - pela avidez que todos parecem experimentar depois de dois anos de ausência - que vieram para ficar.
Voltamos, pois, ao normal. Mas não, não vai ficar tudo bem. Infelizmente, este novo ‘normal’ vem acompanhado de dificuldades para os mais desprotegidos e de muita dor e infelicidade para todos aqueles que experimentam o horror da guerra e das suas consequências. Estamos todos no mesmo barco – o mundo é um só – e os Agentes de Navegação sabem bem o que isso significa.
Rui d Orey

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